Denúncias envolvendo evangélicos se refletem nas eleições e reduzem significativamente bancada na Câmara
Soraia Costa e Edson Sardinha
O escândalo da CPI dos Sanguessugas atingiu em cheio a bancada evangélica da Câmara. Dos 60 deputados que compõem a Frente Parlamentar Evangélica atualmente, apenas 15 continuarão no cargo a partir do ano que vem (veja em detalhes o desempenho eleitoral da bancada). Entre os que não se reelegeram ou não se candidataram, 16 foram citados como envolvidos no esquema de compra superfaturada de ambulâncias. Nenhum dos reeleitos estava sob suspeita da Justiça.
Mesmo com a entrada de novos deputados, a Frente Parlamentar Evangélica não ultrapassará os 40 integrantes. Uma redução significativa para uma bancada que vinha em constante ascensão desde as eleições de 1989 e chegou ao auge em 2002, com 60 deputados e três senadores, sem contar os parlamentares evangélicos que não aderiram à frente.
"A bancada foi reduzida quase à metade e o escândalo dos sanguessugas foi o maior responsável", conclui o sociólogo Ricardo Mariano, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e autor de pesquisas sobre a participação política dos evangélicos. "A questão da ética e da moralidade é algo brandido em toda campanha evangélica e esses escândalos pegaram muito mal, principalmente no interior das igrejas", acrescenta.
As perdas de cada um
Atualmente, a Assembléia de Deus é a igreja evangélica com a maior representação no Parlamento, 22 deputados. Em seguida, vem a Universal, com 16 congressistas.
Todos os 22 membros da Assembléia de Deus se candidataram à reeleição, mas somente cinco garantiram vaga na próxima legislatura. Entre os que não se reelegeram, dez são suspeitos de participação na máfia das ambulâncias. Outros dois deputados federais de primeiro mandato, ligados à igreja, têm vaga garantida na Câmara a partir de 2007: Jurandyr Loureiro (PSC-ES) e Filipe Rio de Cara Nova (PSC-RJ). A bancada pode chegar a ter oito membros se for confirmada a eleição de Doutor Nechar (PV-SP). Ou ele ou o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer, perderá a vaga em razão do deferimento da candidatura de Dimas Ramalho (PSB-SP), que estava sendo contestada.
A Assembléia de Deus, portanto, perderá pelo menos 64% de sua bancada atual. Não se pode confirmar ainda o total de eleitos pela Universal, mas há indicações de que a igreja não perdeu tanto, percentualmente, quanto a Assembléia de Deus.
A Universal reagiu de maneira diferente às acusações contra seus representantes no Congresso. Proibiu a candidatura à reeleição de parlamentares sob suspeita e com isso perdeu 14 postulantes. Apenas dois membros da igreja tentaram a reeleição, mas não conseguiram manter o mandato.
Com ou sem o apoio da igreja, nenhum dos deputados evangélicos investigados pelo esquema de compra superfaturada de ambulâncias conseguiu se reeleger. "Embora algumas igrejas não tenham impedido a candidatura dos acusados pela CPI, a punição foi dada pelos fiéis", diz o professor Ricardo Mariano ao avaliar o mau desempenho dos evangélicos no pleito realizado dia 1º.
A perda da maior bancada
O caso dos sanguessugas é atribuído pelos líderes da Assembléia de Deus a uma "jogada política" para reduzir a bancada evangélica e com isso facilitar a aprovação de projetos polêmicos como a discriminalização do aborto. Os fiéis, no entanto, não gostaram de ver a conduta de seus representantes colocada em dúvida e limaram os acusados.
O presidente do Conselho Político das Assembléias de Deus, pastor Ronaldo Fonseca, diz que desde a divulgação do esquema das ambulâncias, os evangélicos já sabiam que haveria redução drástica da bancada. "O maior grupo era o nosso. Já sabíamos que aconteceria essa redução porque houve um massacre da mídia com esse escândalo dos sanguessugas. Dos nove integrantes da Assembléia que foram citados pela CPI, sabemos que sete não tinham culpa nenhuma", afirma o pastor.
Ao surgirem as denúncias, a igreja chamou os acusados para uma reunião e instaurou sindicância interna para apurar os fatos. "Sabemos que pelo menos sete são inocentes, mas como não temos provas documentais não poderíamos exigir dos fiéis uma postura de apoio", prossegue Ronaldo Fonseca. "Por causa dos escândalos, a redução na bancada era inevitável, os evangélicos não perdoam desvio de caráter, não poderiam votar em suspeitos", acrescenta o pastor, que vê com bons olhos a atitude dos fiéis.
"Estamos mandando um recado para a sociedade de que a Assembléia só aceita políticos éticos. É um exemplo. Se o país todo fizesse isso, não teríamos mensaleiros", pensa o pastor.
Para ele, o mais importante agora é dar prosseguimento aos processos abertos contra os parlamentares. "Tenho certeza que muitos acusados apresentaram emendas, mas não fizeram nada irregular. Agora não podem engavetar esses processos. Tiramos eles nas urnas, mas queremos saber se eram inocentes ou culpados. Temos que saber o que aconteceu", exige Ronaldo Fonseca.
Na próxima semana, a igreja fará uma reunião com os deputados eleitos para avisar que acompanhará de perto a vida parlamentar de seus membros. A idéia da Assembléia é selecionar novos políticos dentro da igreja para promover a renovação da bancada evangélica em 2010. "Não houve tempo hábil para fazer a seleção agora, por isso nossa bancada ficou menor".
O declínio eleitoral da Universal
A decadência da Igreja Universal no Parlamento começou antes mesmo do aparecimento das denúncias dos sanguessugas, quando o ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), que era o líder da bancada da igreja no Congresso, foi envolvido nos principais escândalos que abalaram o país nos últimos anos: bingos, Correios e mensalão.
Ele renunciou ao cargo em setembro de 2005, afirmando não haver provas nem documentais nem testemunhais que o vinculassem a atos ilegais. A igreja decidiu afastá-lo, mas não conseguiu impedir a perda da influência na Câmara. O deputado apenas mudou seu nome político. De Bispo Rodrigues, passou a ser chamado de Carlos Rodrigues.
As denúncias de irregularidades nas emendas individuais de 14 membros da Universal pioraram de vez a situação. Dos 16 deputados integrantes da igreja, apenas Oliveira Filho (PL-PR) e João Paulo Gomes da Silva (PSB-MG) tiveram apoio para a reeleição. Eles tinham a ficha limpa, mas não conseguiram conquistar votos suficientes para voltar à Câmara.
É certo que a Universal ganhará novos representantes - entre eles, os deputados eleitos Paulo Roberto (PTB-RJ) e Léo Vivas (PRB-RJ) -, mas não chegará perto dos 16 deputados da atual legislatura.
Derrotas desse tipo estão levando os evangélicos a reavaliarem sua estratégia de acão política, estimulando-os a considerar até mesmo a ampliação da frente parlamentar, de modo a incluir católicos (leia mais). Um dos novos líderes revelados pelas urnas do dia 1º, Bispo Rodovalho (PFL-DF), defende que haja maior prioridade à ética e à luta por mudanças sociais (clique aqui para ver).
PRA NINGUEM ESQUECER VIU!!!!!! Salve a verdade na Lei da Jurema Sagrada!
fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/Noticia.aspx?id=10539